Há dois dias tivemos aqui na cidade onde moro um evento
realizado pela Prefeitura em razão do aniversário da cidade. Evento este que se
tornou tradicional, mobilizando toda região. A festa é promovida na praça para
que todos possam desfrutar. Nesse dia há uma grande aglomeração de pessoas de
todos os cantos. Como se trata de um show específico com gênero determinado
pelo gosto da maioria, a tendência é uma concentração ainda maior de pessoas.
Para mim este tipo de evento tem como finalidade juntar multidão e só. Deixando
de fora o momento que podemos nos divertir e rever nossos amigos, colegas e
conhecidos, este tipo de evento tem como finalidade apenas uma grande
celebração do exibicionismo de grupos.
Não estou fazendo uma crítica ao evento
promovido aqui onde moro, a crítica é no como as pessoas se comportam nesse
tipo de evento. Aliás, o evento estava de bom gosto para maioria daqueles que
lá estiveram. Num determinado momento da festividade um amigo comentou depois
de retornar de um “rolêzinho” que havia uma pessoa inconsciente numa calçada e
demonstrou espanto ao observar que todos passavam por essa pessoa e a pulavam.
Sim, pulavam como se essa pessoa fosse um obstáculo. Pedi a ele para me levar
no local e para lá fomos.
A cena era de perder a fé no outro.
Há uns cem metros
do local onde estava sendo realizado o evento uma pessoa caída de bruços e uma
intensa movimentação de pessoas que indo para lá enquanto outros iam ao sentido
contrário. Todos pulavam a pessoa no chão ou no máximo uma olhadinha para
constatar (não conheço) e seguia seu rumo. Quando me aproximei da pessoa e me
abaixei para ajudar, dali em diante ela ganhou vida, dignidade e todos foram lá
ver o que estava ocorrendo. Era uma mulher que me parecia bastante alcoolizada.
Conversei com ela com calma e ela alegou que estava mal e pediu ajuda. Perguntei
a ela se conseguia levantar com nosso auxílio para sair daquele local e ela
sinalizou que sim. Então a levantamos e caminhamos uns 15 passos até a
ambulância que encaminhou para Santa Casa.
Confesso que fiquei pasmo quando
cheguei e vi as pessoas pulando e seguindo sua jornada. Fico me questionando: Qual é o preço de
tentar ajudar? Tem medo, algum receio? Tem policiamento no local, basta notificar.
Bombeiros no local, dar uma passada lá e informar?
Talvez por este motivo que
não é o primeiro que vejo que acabei criando uma aversão por esse tipo de
evento. Vou mesmo para cumprir meu papel de marido companheiro e amigo.
Fiquei horrorizado, podia ser um amigo, um colega, um
conhecido distante ou até mesmo um estranho como era o caso. Mas era alguém
igual a mim.
É bom lembrar que é bastante comum o exagero na ingestão de álcool nesse tipo
de evento, por isso devemos ficar atentos àqueles amigos que às vezes passam da
conta. Aliás, a causa também poderia ser outra.
Ajudar o outro seja qual for à circunstância é para mim uma obrigação
moral, senão nos tornamos cada vez menos solidários, com menos humanidade e
deixamos de observar que só através do outro que nos definimos.
É isso!