Por Xico Sá
Vem agora esse aplicativo do Facebook para facilitar – ainda mais - a comilança, como diria o meu amigo Marco Ferreri. Eu te marco, tu me marcas, então tá combinado, é só sexo e amizade.
O nome do brinquedinho é Bang With Friends, o BWF. Sem arrodeios, trepe com amigos.
Assim muito objetivo e direto, sem gastar o latim e o lero-lero. Tudo bem, sintoma dos nossos tempos – chega de mascar o chiclete Ploc da nostalgia.
Sejo com amigos ou futuros inimigos, no problem, vamos nessa. Aqui mesmo, em posts anteriores, falei do bom risco de estragar uma amizade.
O que incomoda, meu caro, é outra coisa.
Estamos perdendo a sagrada arte da cantada, os fragmentos do discurso amoroso, a dramaturgia da conquista, o suspense Hitchcock do xaveco, a incerteza que instiga e aumenta a fissura, a fome de tudo.
O bom, mesmo na mais banal das transas, é o processo de desejo, o sexo falado antes do sexo deveras feito. O que se diz um para o outro, mesmo que tudo aquilo só dure por uma festa.
Os idiotas da objetividade, como chamava o tio Nelson, já destruíram a imaginação dos jovens. Agora querem eliminar qualquer tipo de linguagem que não seja dois cliques e uma penetração mal-conduzida.
Quando falo de imaginação, falo de masturbação, este recurso tão caro a todos os machos, principalmente aos rebentos, aos rabiscos de homens.
A punheta com enredo, sejamos diretos, está praticamente morta.
Em vez de criar uma narrativa do desejo latente, 1 minuto de pornotube.
Não se masturba mais pela prima, a coleguinha da classe, a vizinha do 202 etc. Isso fará falta no futuro, em matéria de criatividade, às novas gerações.
Mas chega de aplicar o Piaget de boteco com esses moços, pobres moços.
Voltemos ao Bang With Friends.
Nada mal que um encontro seja armado pelas redes sociais e seus penduricalhos. Lindo. Não à toa, alguns amigos tratam o FB por “facebuça” e outras baixarias de porcos chauvinistas.
O que me incomoda é que a coisa seja tão direta. Sexo bom carece de sedução e cantada, mesmo que o encontro seja pista do Love Story ou no último cabaré da Lapa.
Assim como o entre sem bater, não trepe sem cantar.
Fonte. Folha de São Paulo
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