quinta-feira, 2 de junho de 2011

Despadronização

Aproveitando a ótima dica do blog Carpe Diem (http://carlosodarp.blogspot.com/), acabei assistindo ao filme Sociedade dos Poetas Mortos, obra esta que nos abre a mente para o infinito das possibilidades. Nunca estive tão conectado ao mundo da educação como estou hoje. Leio, assisto, procuro me manter informado sobre tudo que acontece.

A repercussão do vídeo da professora que fez o raio-X da educação no Brasil, reacendeu o debate que já existia, mas estava morno e escondido, fechado entre quatro paredes. Esse método arcaico de ensino atrasa a educação que é fundamental para formação das novas cabeças pensantes do Brasil. A discussão em torno da educação pertence e necessita da participação de toda sociedade e não é do interesse de um pequeno grupo como acontece. Existe uma comissão que discute o que é melhor pra educação, o que eles decidem é o que será feito. Por conta disso que a educação no Brasil está no nível que está.

E os professores, será que a opinião deles não tem peso, relevância? Eles vivenciam a realidade em sala de aula, eles têm competência para opinar a respeito, dar sugestões para mudanças. A sala de aula deixou de ser o limite entre professor e aluno, a tecnologia expandiu o aprendizado para além dos muros da escola. Como alguns educadores defendem, também sou contra o ensino de respostas exatas. Para quem tem facilidade em memorizar cálculos e textos, é simples. Difícil é pensar em soluções. Quando na escola, somos obrigados a ler aqueles clássicos da literatura (Vidas Secas, Grande Sertão Veredas entre outros) e a maioria desses textos são complexos, mas ainda assim pela obrigação acabamos por ler e guardamos os trechos mais importantes para possíveis questionamentos.

Eu, particularmente, não gosto desse tipo de leitura, mas respeito à importância dessas obras. Dias atrás notei uma garota lendo um desses clássicos e perguntei se ela realmente estava gostando da leitura. Ela respondeu que achava interessante, mas que só estava lendo mesmo por conta do vestibular. Não estou dizendo que sou contra a literatura, estou dizendo que não é do agrado da maioria. Sou da seguinte opinião, quando estamos diante de uma obra que enriquece intelectualmente, primeiro é necessário entender, mas a maioria apenas lê o livro para responder perguntas exatas.

O vestibular também divide opiniões, o Professor Rubem Alves, conta uma passagem de quando exercia funções na Unicamp. Disse que quando foi incumbido para selecionar candidatos ao Doutorado, teve uma ideia excelente. Ao invés de fazer perguntas cujas respostas seriam exatas, o Professor resolveu fazer uma pergunta só para todos: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar” Segundo as palavras do próprio Rubem: Não interessava aquilo que eles haviam memorizado dos livros, pois muitos idiotas têm boa memória. O resultado foi único, pânico em todos. Poucos esperam que seus pensamentos sejam relevantes para alguma coisa, e esse é o grande erro da educação. Quando digo erro da educação não digo dos professores, os professores seguem regras mesmo que não seja ao pé da letra, mas não deixa de ser regra. O aluno antes de tudo tem que aprender a pensar, tem que saber a origem do pensamento.

O que vejo é um turbilhão de regras e ordens com obrigações que furtam os alunos de aprender a pensar. Mesmo que parece irreal, é o Professor que forma um Presidente, um Jogador de Futebol, ator, cientista, alguém que possa ser relevante para mudança do mundo. Não temos que distribuir culpas, se a educação está onde está culpados todos somos. Sem educação de QUALIDADE não há progresso (alguém disse isso em algum lugar). E qualidade está ligada a liberdade de expressar pensamentos, o professor tem que sentir o feedback (retorno) dos alunos, saber em que nível está o pensamento deles, como eles assistem o mundo, isso faz e fará toda diferença.

Para finalizar, duas lições do filme Sociedade dos Poetas Mortos.

Primeiro:

Devemos olhar constantemente as coisas de maneira diferente. Acredite em suas convicções, mesmo que pareça esquisito (excêntrico), não deixa de ser uma visão/pensamento diferente.

Segundo:

Duas estradas divergiram num bosque e eu segui pela menos usada. Isso fez toda diferença.
Robert Frost


Ensinamentos que valem para a vida e não apenas para educação.

Ah, uma dica, assista ao filme.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Dia Mundial sem Tabaco

O cigarro deve matar em 2011 quase 6 milhões de pessoas em todo o mundo – dessas, 600 mil são fumantes passivos.

O número representa uma morte a cada seis segundos. Até 2030, a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que 8 milhões de pessoas podem morrer em consequência do fumo.

A OMS classificou o tabaco como um dos fatores que mais contribuem para a epidemia de doenças não contagiosas como ataques cardíacos, derrames, câncer e enfisema. O grupo é responsável por 63% de todas as mortes no mundo. Dados indicam que metade dos fumantes deve morrer em razão de uma doença relacionada a esse hábito.

No Dia Mundial sem Tabaco, lembrado hoje (31), a OMS listou avanços no enfrentamento ao cigarro. Entre os destaques estão países como o Uruguai, onde os alertas sobre o risco provocado pelo cigarro ocupam 80% das embalagens. A China, Turquia e Irlanda também receberam elogios por leis que proibem o fumo em locais públicos.

Entretanto, menos da metade dos países que aderiram à Convenção de Controle do Tabaco (2003) e que enviaram relatórios à OMS registraram progresso no combate ao fumo. Apenas 35 de um total de 65, por exemplo, registraram aumento nos investimentos para pesquisas no setor.

Um estudo feito pelo Ministério da Saúde mostra que entre 2006 e 2010 a proporção de brasileiros fumantes caiu de 16,2% para 15,1%. Entre os homens, a queda foi maior – o hábito de fumar passou de 20,2% para 17,9%. Entre as mulheres, o índice permaneceu estável em 12,7%. Pessoas com menor escolaridade - até oito anos de estudo - fumam mais (18,6%) que as pessoas mais escolarizadas - 12 anos ou mais (10,2%).

Fonte:

Ig.com.br

segunda-feira, 30 de maio de 2011

É proibido proibir: Marcha pela Liberdade

Em maio, São Paulo viveu cenas dignas do período da ditadura civil-militar. Vários manifestantes e jornalistas foram espancados e consumiram gás lacrimogêneo ou de pimenta, porque estavam no ato pela liberdade de expressão, que inicialmente seria a “Marcha da Maconha”, permitida há três anos por juízes de São Paulo, mas vetada pelo Tribunal de Justiça.

Mas que fique claro que desnecessário pedir ao Judiciário para se manifestar, pois nenhum dos poderes de Estado têm a função de censurar o conteúdo das manifestações sociais, como estabelecido em nossa Constituição, que fixou diversas garantias e direitos, dentre eles a liberdade de reunião, instrumento para concretizar a liberdade de expressão, manifestação, incluindo o direito de protesto. A normativa internacional, regional e nacional segue a mesma direção e constou inclusive das observações do Relator Especial sobre a Liberdade de Expressão da CIDH, referindo-se às proibições a atinentes à “Marcha da Maconha” que “marchas de cidadãos pacíficas em áreas públicas são demonstrações protegidas pelo direito à liberdade de expressão”.

O Estado Democrático de Direito pressupõe o debate aberto e público. Não é possível criar uma sociedade livre, justa e solidária sem o patamar da liberdade de expressão e de reunião, sustentáculos da democracia. Impedir o exercício destes direitos significa retirar dos cidadãos o controle sobre os assuntos públicos.

O direito de reuinião, de protestar, é de primeira grandeza, a ser resguardado pelo Poder Judiciário, na medida que este direito é o único que pode fazer valer os demais direitos fundamentais, especialmente destinados aos mais vulneráveis e à diversidade.

Como defende o constitucionalista argentino, Roberto Gargarella, o direito de protesto é o primeiro direito, porque é a base para a preservação dos demais. No núcleo essencial dos direitos, em uma democracia, está o direito de protestar, de criticar o poder público e privado. Não há democracia sem possibilidade de dissentir e de expressar o dissenso.

Entretanto, o que se tem observado, é que o direito de reunião e liberdade de expressão passam a ter como paradigma o direito criminal. Não é o código penal que deve estar à mão, quando se decide sobre estes direitos, pois este tem como ápice a repressão, a criminalização. O paradigma deve ser o constitucional, sempre, pois o norte é o nível de proteção que os direitos fundamentais exigem e que devem ser priorizados.

O exercício da liberdade de expressão e reunião é imprescindível para tornar visível a cidadania. Ir às ruas e praças, que ressoam um modo de refletir, de ver, de mostrar e compartilhar idéias com os demais cidadãos e com o próprio Estado é gesto que se repete desde a origem da democracia, que não se limita ao sufrágio eleitoral, cujo resultado indica que está circunscrito às maiorias, pois há um déficit visível de representação de interesses dos direitos econômicos e sociais agasalhados pela Constituição.

A democracia exige o comprometimento dos cidadãos e exercer os direitos mencionados é uma forma de participar dos desígnios do Estado e de suas políticas públicas. Nesta hora não deixa de vir à mente a imagem da faixa estendida em 1979, em pleno jogo, pelos Gaviões da Fiel: “Anistia, ampla , geral e irrestrita”, os comícios dos trabalhadores, o gigantesco ato pelas diretas no Anhangabaú, as marchas das mulheres e tantas mais, maiores e menores.

Não precisa pedir para Justiça para se manifestar.

Desdenhar a liberdade de expressão e reunião é asfixiar e por fim matar a democracia, que não terá como subsistir com golpe de cassetes e outros golpes.

Então, Marcha pela liberdade: presente

Kenarik Boujikian Felippe é juíza de direito em São Paulo, secretaria da Associação Juízes para a Democracia

Fonte:

Revista Caros Amigos

Frase


"Aprendi a respeitar as ideias alheias, a compreender antes de discutir, a discutir antes de condenar".

Voltaire