sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


A sedução da comunicação


Aqui vai um desejo para 2013: usem a Comunicação para seduzir. A essência do pensamento não é original, foi apresentada pelo sociólogo francês Dominque Wolton, num pacote de seis lições sobre a importância da Comunicação no mundo atual.
>> Seres humanos não podem deixar de se comunicar.
>> O outro pode não concordar.
>> Deve-se, sempre, tentar negociar com os opostos.
>> Tudo é convivência.
>> Democracia é admitir o ponto de vista diferente.
>> Comunicar é seduzir.
A “sedução” a que se refere Wolton é aquela que desata os nós, que constrói pontes, que esclarece o que nem sempre é evidente e que, por isso, evita conflitos. No mundo da propaganda e da tecnologia, vende-se a ilusão de que ao comprar um tablet ou um smartphone adquirimos a chave ou o poder da Comunicação. Tolice. A tecnologia deixa o mundo menor, mas como estamos usando o nosso tempo? Ganhamos na dimensão espacial, mas, e a temporal? Do que estamos falando? Adquirimos novas capacidades de interpretar os fatos e de tomar decisões?
A Comunicação está diretamente relacionada à liberdade de informar-se, decidir e interferir. Por consequência, está ligada à democracia. Foi-se o tempo do cidadão passivo. Hoje a Comunicação é construída em plataformas convergentes que formam uma “rede” onde o espectador é também produtor, ocupando posição central nessa teia. Das “redes” sua influência transborda para a sociedade. E daí as discussões cada vez mais presentes sobre uma democracia participativa em lugar da representativa, assunto que merece novos contributos para outro debate.
Vizinhança esquecida
A tecnologia é a pedra angular de um tema contraditório: permite alargar a participação cidadã, dado à sua capacidade de multiplicar esses efeitos, mas exerce um fascínio quase ditatorial no perfil consumidor desse mesmo cidadão. Aqui a “sedução” é outra: estimula a absorção dos modismos e o desejo de adquirir a nova versão do último modelo ou mesmo de uma reserva prévia do que ainda está para ser lançado. Nós humanos não gostamos de fila. Mas há quem as enfrente para ser o “primeiro” a ter o “último”.
Nessa corrida desenfreada por uma tecnologia que nos ilude com a ideia de promover uma autocomunicação – e de nos tornar instantaneamente sociáveis e populares – vimos desaparecer as cartas manuscritas e, mais recentemente, os cartões de Natal impressos. Todos destinados ao abismo da obsolescência e substituídos por uma virtualidade que chega a ser criativa, engraçada, barata, rápida e fácil, mas é efêmera, desprovida de reflexão e imediatista.
Para que escolher palavras, se o texto está pronto? Para que abraçar, se existe o avatar? Para que sorrir ou chorar, se os emoticons expressam nossas emoções? É preciso colocar sentimento na Comunicação. E para isso não dependemos da tecnologia. Os estrategistas do marketing – os mesmos que nos fazem “desejar” entrar na fila do smartphone mais moderno – sabem que, para seduzir, nada melhor do que as qualidades humanas... Afinal, o que os avatares emoticons são, senão uma extensão de nosso corpo e sentimentos? Isso também não é novidade: o “papa” da Comunicação dos anos 1960, Marshall McLuhan, já dizia que os meios de comunicação são a “extensão” do homem.
Por fim, este “determinismo tecnológico” do século 21 desconhece que na “sedução” preconizada por Wolton também está embutida certa cordialidade que não pode desaparecer. Há muitas pessoas que trocam confidências com um amigo virtual e se esquecem de dar bom dia ao vizinho ou ao colega real. A tecnologia nos permite viajar pelo ciberespaço, mas nos esquecemos da vizinhança. Agindo assim estamos sendo universais ou provincianos?
***
[Carlos Tourinho é jornalista, editor da TV Globo (ES), professor, doutorando em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho]
Fonte. Observatório da Imprensa. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

BUSCANDO A EXCELÊNCIA

Por Lya Luft

Quando falo em excelência, não me refiro a ser o melhor de todos, ideia que me parece arrogante e tola. Nada pior do que um arrogante bobo, o tipo que chega a uma reunião, seja festa, seja trabalho, e já começa achando todos os demais idiotas. Nada mais patético do que aquele que se pensa ou se deseja sempre o primeirão da classe, da turma, do trabalho, do bairro, do mundo, quem sabe? Talento e discrição fazem uma combinação ótima.
Então, excelência para mim significa tentar ser bom no que se faz, e no que se é. Um ser humano decente, solidário, afetuoso, respeitoso, digno, esperançoso sem ser tolo, idealista sem ser alienado, produtivo sem ser viciado em trabalho. E, no trabalho, dar o melhor de si sem sacrificar a vida, a família, a alegria, de que andamos tão carentes, embora os trios elétricos desfilem e as baladas varem a madrugada.
Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistente. Autoridades, altos cargos, líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos — refiro-me às públicas — vão se tornando reduto de pobreza intelectual.
As infelizes cotas, contra as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançarmos este objetivo: a mediocrizaçâo também do ensino superior. Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha.
E, porque não sabem ler nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. Professores que, mal pagos, mal estimulados, são mal preparados, desanimados e exaustos ou desinteressados. Atenção: há para tudo isso grandes e animadoras exceções, mas são exceções, tanto escolas quanto alunos e mestres. O quadro geral é entristecedor.
E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito, porque o governo lhes tivesse dado uma ótima escola pública e bolsas excelentes: não porque, sendo incapazes e despreparados, precisassem desse empurrão. Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade, porque teve ótimos 1º e 2° graus em escola pública e ou bolsas que o ampararam.
Além do mais, as bolsas por raça ou cor são altamente discriminatórias: ou teriam de ser dadas a filhos de imigrantes japoneses, alemães, italianos, que todos sofreram grandemente chegando aqui, e muitos continuam precisando de esforços inauditos para mandar um filho à universidade.
Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso de sua própria capacidade e talento, já entre as crianças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos aprender brincando.

Isso pode ser bom para os bem pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a vida não é só brincadeira, que lazer e divertimento são necessários até à saúde, mas que escola é também preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá disciplina e limites — que aliás deveriam existir em casa, ainda que amorosos.
Muitos dirão que não estou sendo simpática.
Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num momento fundamental em que, em meio a greves, justas ou desatinadas, projetos grandiosos e seguidamente vãos — do improviso e da incompetência ou ingenuidade, ou desinformação —, se delineia com grande inteligência e precisão a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de brasileiros.
Está sendo um momento de excelência que nos devolve ânimo e esperança.
Fonte. Revista Veja