sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Não deixe a cantada morrer

Por Xico Sá 

 Vem agora esse aplicativo do Facebook para facilitar – ainda mais - a comilança, como diria o meu amigo Marco Ferreri. Eu te marco, tu me marcas, então tá combinado, é só sexo e amizade. 

 O nome do brinquedinho é Bang With Friends, o BWF. Sem arrodeios, trepe com amigos. 

Assim muito objetivo e direto, sem gastar o latim e o lero-lero. Tudo bem, sintoma dos nossos tempos – chega de mascar o chiclete Ploc da nostalgia.

 Sejo com amigos ou futuros inimigos, no problem, vamos nessa. Aqui mesmo, em posts anteriores, falei do bom risco de estragar uma amizade. 

 O que incomoda, meu caro, é outra coisa. Estamos perdendo a sagrada arte da cantada, os fragmentos do discurso amoroso, a dramaturgia da conquista, o suspense Hitchcock do xaveco, a incerteza que instiga e aumenta a fissura, a fome de tudo.

 O bom, mesmo na mais banal das transas, é o processo de desejo, o sexo falado antes do sexo deveras feito. O que se diz um para o outro, mesmo que tudo aquilo só dure por uma festa. 

 Os idiotas da objetividade, como chamava o tio Nelson, já destruíram a imaginação dos jovens. Agora querem eliminar qualquer tipo de linguagem que não seja dois cliques e uma penetração mal-conduzida. 

 Quando falo de imaginação, falo de masturbação, este recurso tão caro a todos os machos, principalmente aos rebentos, aos rabiscos de homens. A punheta com enredo, sejamos diretos, está praticamente morta. 

Em vez de criar uma narrativa do desejo latente, 1 minuto de pornotube. Não se masturba mais pela prima, a coleguinha da classe, a vizinha do 202 etc. Isso fará falta no futuro, em matéria de criatividade, às novas gerações. 

Mas chega de aplicar o Piaget de boteco com esses moços, pobres moços.

 Voltemos ao Bang With Friends. Nada mal que um encontro seja armado pelas redes sociais e seus penduricalhos. Lindo. Não à toa, alguns amigos tratam o FB por “facebuça” e outras baixarias de porcos chauvinistas. 

 O que me incomoda é que a coisa seja tão direta. Sexo bom carece de sedução e cantada, mesmo que o encontro seja pista do Love Story ou no último cabaré da Lapa. 

 Assim como o entre sem bater, não trepe sem cantar. 

 Fonte. Folha de São Paulo

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