segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dúvida cruel: o homem frouxo ou o canalha?


Por Xico Sá 

Uma velha questão sempre discutida aqui nas noites da taverna voltou à baila, quando Carol, vestida nas suas calças vermelhas e com teses da mesma coloração, pediu a palavra:

“Pois saibam todos vocês: prefiro um bom canalha a um homem frouxo.”
A sentença da paulistana, sem deixar um farelo de dúvidas sobre a mesa repleta de bebidas e acepipes, fez com que alguns de nós levássemos a mão ao queixo, como se todos virássemos, naquele instante, ingênuos pensadores de Rodin. Pense!
“E querem saber mais? Só existem esses dois tipos mesmo de homem!”, arretou-se a dama.

A frase nem era para tanto, mas saiu tão afirmativa, tão sem dúvida ou vacilo, tão incendiária, que balançou até a plaqueta do “Fiado só amanhã” do boteco. A coisa fica forte conforme ela é dita, digo, conforme as labaredas do discurso.

Na boca de mulher bonita, então, vira imediatamente certeza absoluta.Essa capacidade que elas têm de acordar as mesas e fazer balançar, qual ventania mal-assombrada, as garrafas de cachaça com raízes ou cobras -sim, no botequim sem nome de ontem, na Bela Vista, havia aquelas garrafas envenenadas.

Carol se apegou ao recurso do conhecimento de causa, ao saber da rotina, à jurisprudência amorosa da sua trajetória.

“Pois saibam todos vocês: prefiro um bom canalha a um homem frouxo.”

O cearense dono do estabelecimento parou as suas atividades para ouvir a moça. A mulata da Vai-Vai também se ligou no discurso. Uns vagabundos deram pitacos. Como uma frase dita de forma convicta pode virar um Pentecostes em um simples pé-sujo de San Pablo.

Ela não repetiu a frase, não carecia, a frase ecoava como uma sentença romana e voltava a balançar as garrafas, a mexer com os presentes, os vivos e os que por ali passavam àquela altura.

O canalha, concluímos, sem que ela dissesse mais nada, merece mais respeito porque é mais explícito, a mulher já entra na história sabendo, e ainda pode ter momentos líricos, passionais, bonitos, pois todo canalha é, no fundo, um devoto, ajoelha-se diante de uma fêmea como um romeiro diante do seu santo predileto.

O frouxo representa, sem nenhum distanciamento, a maioria dos homens contemporâneos e o chove-não-molha da hora, o homem-de-Ossanha, aquele que diz vou e não vai, o indeciso, o confuso, melhor, o “cafuso”, como dizia o velho Didi Mocó.

O fraco não se apresenta para valer no jogo, titubeia, faz que vai e acaba não “fondo”, como dizia, no seu genial futebolês, o Dedeu, um desses tantos macunaímas da bola, cearense que brilhou (pelo menos na prosódia) no Clube Náutico Capibaribe.
Triste escolha essa: o canalha ou o homem frouxo.Pobre dicotomia alcóolica.

O mundo é bem melhor que isso, não acha, amiga?
Só sei que nada sei sobre esse assunto, como diria o grego complicado. Melhor ainda, como diria 
Roberto Carlos das antigas: “Só agora eu sei, o que aconteceu/quem sabe menos das coisas/sabe muito mais que eu!”


O comentário abaixo foi extraído dos comentários relacionado ao texto

"A mulher busca o homem que desperta nela as experiências mais intensas. Desejo, mistério, aventura, dúvida, drama, tesão. Uma montanha russa de emoções, altos e baixos, imperativos e indefinições, ondas e ressacas do mar do amor que quebram no peito da donzela e lhe tiram o fôlego. Geralmente que faz isso é o canalha, homem de coragem, anti-herói vulnerável que dá a cara pra bater, corre riscos, é imprevisível, sensível, ousado, direto e tarado. A mulher sabe que o canalha é hiperbólico, misterioso, contraditório e muitas vezes mentiroso, e mesmo identificando as mentiras do canalha, a mulher prefere fazer vista grossa e ficar com ele a ter que conviver com o marasmo do frouxo, o ser cinza e inerte que não faz nem uma marolinha no coração da mulher. O canalha acende a chama na vida da mulher. Às vezes a mulher se cansa e casa com o frouxo, quer paz, estabilidade, previsibilidade. Mas gozar gostoso, só mesmo com o canalha" 


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