sexta-feira, 14 de abril de 2017

A realidade virtual como espelho do nosso vazio contemporâneo

Com título tão profundo deixo a impressão que irei produzir uma tese nos moldes daqueles textos atemporais dos filósofos clássicos. Não, eu não sou tão pretensioso assim. Minha reflexão tem objetivo simples, serão apenas alguns lampejos de pensamentos que me surgiram nesse exato momento.

É possível verificar de modo a não sermos traídos pelos nossos pensamentos que a sociedade atual está totalmente desregulada. Se é que podemos afirmar (tenho dúvidas) que em algum período da história tenha sido. Embora tenhamos à disposição a mais alta tecnologia com todas ferramentas necessárias e conhecimentos suficientes para transformação do mundo são notáveis duas questões fundamentais: Primeira, o grosso da nossa sociedade não faz ideia do poder que temos em mãos. Segundo, aqueles que estão no topo da pirâmide tem por décadas impedido nosso acesso às ferramentas de transformação objetivas. Antes de adentrar ao tema que especificamente pretendo, permita-me uma provocação. São elementares três pilares para manutenção equilibrada de uma sociedade justa: Social, educacional e econômico. São indissociáveis, sabemos. A provocação: A quantas anda nosso Brasil nesses campos, porque estamos onde estamos? É um quebra-cabeças importante de se montar. Passo a seguir ao tema.

O advento das redes sociais têm nos permitido notar objetivamente cada vez mais aquilo que já havia sido elaborado há mais de 40 anos (falo especificamente do Brasil). Lembro-me de ter lido há alguns anos uma publicação sobre Psiquiatria onde um grupo de médicos (brasileiros) apontavam o século 21 como sendo o século da depressão. Providencial! Não por acaso a OMS (Organização Mundial da Saúde) escolheu o ano de 2017 para o tema: Depressão. Nossas dúvidas ainda são muitas: Que mal é este e porque tem cada vez mais nos atingido de forma tão profunda? Como sondar uma doença invisível? Como tocar uma estrutura intangível, como atingir a doença que nos silencia? Vivemos num modelo de sociedade (e quando aqui digo modelo afirmo categoricamente que são regras e normas estabelecidas por nós, que são passíveis de modificação) onde o tempo para dedicação a nós é ínfimo, quase não temos tempo. Cada vez mais temos individualizado nossas relações, estamos no cada um por si, no modelo em que o outro é visto como meu concorrente e é preciso vencê-lo. Estamos cada vez mais desamparados, perdidos, sem norte para solução das nossas angústias. Esse sistema que nos rege obrigou-nos a não refletir mais sobre a vida. Sofremos diariamente todos os tipos de violência que já conseguimos catalogar ao longo dos tempos. A vida que deveria ser ao contrário está sendo um fardo pesado demais. Há quem queira nos convencer que a vida é assim. Será? Ou seria a vida o resultado da experiência, um espelho do nosso convívio? Será mesmo que a razão de tantas pessoas tirarem a própria vida estaria ligada ao fato de ser uma questão pessoal sem possibilidade de influência externa? Jamais! Sempre estará ligado ao fator externo. Lembremo-nos aqui que falo de ligação e não de culpa. Como disse inicialmente, as redes sociais têm sido e é um espaço onde se pode notar as expressões mais claras do nosso vazio existencial. Ali depositamos por vezes nossas angústias, nossos excessos, nossas dores, nossas faltas. E por que ali o fazemos? Por vezes podemos nos flagrar dizendo: Fulano só reclama na rede social, nunca está satisfeito. Parou para imaginar que talvez este mesmo fulano nem se dê conta que está subjetivamente, quero dizer - por outros meios, solicitando alguma ajuda? Que possa ter tentado por outros meios e não tenha conseguido uma resposta positiva. Num mundo tão insensível, indiferente e individualista como este, quem quer dizer objetivamente que está se sentindo mal, para baixo, triste ou sendo mais específico, com depressão? Isto para ouvir que ele está com frescura, que não é nada? Quem está doente e encontra forças para pedir ajuda não quer ouvir isso, acredite. A depressão sendo a segunda maior causa de mortes no mundo e a terceira maior causa de mortes no Brasil deve ser considerada e levada a sério. A rede social é um espelho desse nosso vazio em dois claros contrastes: Primeiro no não obvio mas suspeito excesso de exposição de felicidade, como se quisessem nos convencer da possibilidade de uma vida plenamente feliz. Tudo bem, a rede social nos impede agir desse modo. E segundo, a insatisfação propriamente dita. Os conteúdos negativos, aqueles que podem nos irritar pela frequência. Mas não podemos confundir depressão com a tristeza comum que todos sentimos e que são da própria da vida e aflige a todos de igual modo. Entretanto, não podemos negligenciar os indícios da depressão. Pois ela é bem assim sorrateira, vem se instalando e nos silenciando aos poucos. Todo cuidado é pouco.

A Era da Depressão. Jornal Médico Brasileiro, 1978

No século da velocidade vivemos como se fossemos numerados, vacinados, condicionados a pensar e a executar atos como autômatos. Cada vez mais o homem se sente só. Desprotegido, incompreendido e inseguro. Há falta de segurança para andar na rua, para viajar, para trabalhar, para se divertir, para permanecer em sua própria casa. O homem vive com medo. Porque além disso, o que é pior, perdeu a fé. A fé em si próprio, a fé nos companheiros, a fé em Deus. 

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